Caro amigo cristão, tenta imaginar a seguinte cena.
Há ambiente natalício, com lareira, bolos, chá quentinho, crianças a correr escada abaixo, escada acima. Uma família grande, todos felizes. A tradição diz que os presentes devem ser abertos no dia 25 de manhã, em Família. Está bem, esperamos! As crianças estão ansiosas por abrir os presentes que estão perto dos seus sapatinhos, mas aguentam a ansiedade que têm e brincam para enganar o tempo. A pouco e pouco, vão-se deitando todas as pessoas da Família, inclusive as crianças, que são as primeiras. Deitam-se com o pensamento sonhador dividido entre as histórias de Natal que ouviram, uma oração ao Menino Jesus, outra ao Anjo da Guarda, e aquilo que vão receber no dia seguinte.
No dia seguinte, as crianças são as primeiras a acordar. O sol ainda mal se vê, mas a claridade já faz os pequeninos saltarem da cama e vestirem a correr os seus robes minúsculos e correr para a sala, onde estão os presentes todos. Vêm aqueles embrulhos todos, que parecem gritar "Abre-me, amigo! Vem ver o que escondo dentro de mim! Anda, é para ti!". Passado um bocadinho, a Maria pequenina e o Pedrinho foram à cozinha buscar um bocadinho de leite do dia anterior, que tinha ficado de fora do frigorífico. O Domingos, o João e a Teresa, foram aos quartos dos pais e dos avós acordá-los... afinal, queriam era abrir os presentes! A Isabelinha foi à casa de banho porque estava aflita para fazer chichi e tinha deixado as fraldas só a semana passada... não queria fazer no pijama, ainda por cima logo naquele dia! Ficou o pequeno Manuel sozinho na sala, com os presentes.
Olhou para o maior deles todos, era dos seus pais. Tinha um embrulho muito bonito, estampado a encarnado e verde com desenhos animados, e a forma e o conteúdo do presente intrigava-o, e de que maneira! O Manuel queria abrir os presentes com a Família lá, mas estavam a demorar tanto... "Arghhhh, não aguento!" Manuel rasgou o presente e, de repente, viu lá dentro um grande carro telecomandado. "Yupee, lindo, era mesmo o que eu queria!!" Agarrou no carro e foi à cama dos pais acordá-los.
- Pai, Mãe!! Mãe, Pai, acordem!
- Uahh... que horas são isto?
- Obrigado pelo carro Mamã!! Gostei mesmo muito!!
- Ahh, óptimo... mas porque não esperou por nós, Manel?
- Não resisti... desculpem!
Claro que a Mãe e o Pai do Manuel desculparam-no. Embora tenham ficado contentes com a reacção do filho, que delirou com o presente, ficaram também tristes e com pena de o filho não ter esperado por eles, que chegassem à sala. O filho também podia ter ficado mais contente, se não tivesse o peso na consciência de não ter esperado pelos pais para abrir o presente. Claro que se lembrou dos pais quando o abriu, mas a questão que o incomodava não era bem essa... é que os pais não estiveram totalmente presentes na abertura daquele embrulho que fizeram e deram com tanto amor, e queriam ter estado e Manuel sabia disso. Pronto, pediu desculpa, menos mal. Estava perdoado. Mas o Manuel não queria tornar a fazer isso. Para a próxima ia ser diferente!
Os pais aqui, são Deus. O Manuel somos cada um de nós, acompanhados pelo resto da Família Cristã que é a Igreja. O presente que Deus nos dá, aqui, é o dom do Amor na relação sexual. O Amor com que "abrimos" este presente não está posto em causa, mas sim a altura. A altura certa é aquela em que abrimos o presente com mais sentido e, consequência disso, abri-lo assim dá-nos um gozo muito maior. Se for fora de tempo, também dá gozo e é bom. Mas qual é o ponto de o fazer se isso pode e deve ser querido, amado e gozado até ao seu máximo? Então, devemos abrir este "presente" que Deus nos dá quando Ele estiver presente em toda a Sua plenitude, e tal como Ele quer. Então, construímos condições e esperamos pelo Espírito Santo que desce sobre nós na forma de Sacramento do Matrimónio. Casamo-nos, diante de Deus e da Família Cristã que nos acompanha. Então, com todos presentes, temos condições para amar e abrir este nosso presente, com quem amamos, na intimidade das nossas novas vidas a três. Se cais, não penses que deitaste tudo a perder. Podes sempre ser casto, e Deus perdoa-te sempre. Se estiveres verdadeiramente arrependido, como o Manuel, que não queria voltar a fazer aquilo da próxima vez, ficas limpo de pecados, Santo. A dinâmica aqui, como sempre, é a do Amor Maior. Se não estás lá muito convencido com esta história, não te esqueças que somos pequeninos. Devemos confiar na Igreja, que estuda este Amor Maior há séculos e séculos. Um abraço fraterno ao leitor,
AVC